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shariratraya e panchakosha • O corpo tríplice e os cinco envoltórios do ser humano


A filosofia do Yoga considera que a estrutura humana é composta por vários corpos, caracterizados pelo grau de sutileza e funções.


Tal visão coincide com as doutrinas do samkhya e vedanta, e equivale aos termos: matriz energética, psicosfera, aura, anatomia sutil, corpo bioplasmático ou bioplásmico.


Na tradição da Cabala, merkabah é o veículo sutil que possibilita o trânsito pelos planos superiores, através dos quais se alcança a natureza divina.



De acordo com a filosofia hindu, o ser humano se origina de um princípio espiritual divino, o atman, que é vivificado por uma energia vital, o prana.

O prana apresenta diferentes funções e circula através de canais energéticos, sendo que os chakras são os centros de força encarregados pela captação, armazenamento e distribuição da energia prânica, que é também psíquica e espiritual. A partir do sistema energético, o prana é modulado pelos sistemas nervoso e endócrino, gerando impulsos bioelétricos e bioquímicos no organismo.


Além do corpo energético, ou de prana, existem camadas relativas à atividade da consciência, envolvendo as faculdades mentais, a percepção extrassensorial, o registro akáshico e a mente budica.

A atividade dos invólucros da consciência é variável, de acordo com o grau de evolução espiritual. Nos objetos, o princípio de consciência se apresenta inativo; já nos animais, a consciência se encontra bastante encoberta, e o instinto predomina.


Os corpos são emanações do próprio atman ou jivatma, a Alma individual, que é perfeita, pois possui as mesmas qualidades do Criador, brahman.

As camadas se interpõem e se interpenetram, em constante interação, e a classificação linear é útil para a explanação e compreensão dos conceitos.

São como veículos que realizam a comunicação entre o ser humano e sua origem divina, e por isso, são chamados de “véus de ilusão”, que encobrem e obscurecem a natureza intrínseca do ser, o atman.

atman não tem forma definida: ele se reflete e atua através dos corpos.


Como em um espelho d’água, o reflexo pode ser mais ou menos distorcido, de acordo com a atividade na superfície e qualidade da água, seja ela límpida ou turva.

E ainda que a água seja calma e límpida, a imagem refletida apenas se aproxima do objeto original.


Purusha, a consciência ou inteligência, necessita de um meio que viabilize a manifestação de sua ideia criativa, que é Prakriti, a matriz fenomênica. Entretanto, do mesmo modo que uma obra idealizada na mente não é reproduzida exatamente como foi concebida, Purusha se modifica ao atuar em Prakriti.

O grau de assimilação de Purusha por Prakriti, está relacionado aos movimentos da consciência, assim como o espelho d’água em relação ao movimento da água. Quanto menor a agitação, mais próxima a imagem refletida estará do objeto original.


Leia mais sobre Purusha e Prakriti


O que impede a fiel manifestação de Atman é a ignorância, que se origina da identificação das camadas de corpo, mente e ego com o sujeito. O sujeito se condiciona à crença de que é um corpo de carne com uma consciência limitada, interagindo com o mundo concreto.


No ser iluminado ou incondicionado, a consciência de Atman e do sujeito se unificam, ou seja, a ilusão se extingue e a real natureza do ser é revelada. Como Atman é parte da mente do Todo, se alcança o conhecimento da natureza real do universo.


A estrutura do corpo sutil é apresentada como se segue.


Shariratraya ou Trikaya é o corpo constituído por três esferas, que são: Sthula Sharira, Sukshma Sharira e Karana Sharira, respectivamente, corpo grosseiro, sutil e espiritual.


Panchakosha é a subdivisão de Shariratraya em cinco invólucros, que são: Annamaya Kosha, Pranamaya Kosha, Manomaya Kosha, Vijñanamaya Kosha e Anandamaya Kosha.

Kosha e Sharira recebem a tradução de corpo, invólucro, bainha ou envoltório. Sharira também é traduzido como “aquilo que decai”.


Pancha, o número cinco, está relacionado à Doutrina do Samkhya, que juntamente com Yoga, forma um dos pares das principais Escolas Filosóficas do hinduísmo.

De acordo com o Samkhya, existem cinco órgãos dos sentidos, cinco órgãos de ação, bem como cinco elementos, chamados de tattvas ou bhutas.

A estrutura dos corpos e invólucros também admite a existência de Antahkarana, ou Mente Quádrupla, o órgão responsável pelas funções da mente.


A seguir, as características e funções dos três corpos, cinco envoltórios e do Antahkarana, do plano mais sutil para o denso.


Karana Sharira, o corpo causal


Este corpo se refere à causa, o propósito da existência, que inclui o registro akáshico, como reservatório das vidas pregressas. Esta instância conhece e contém os vasanas e samskaras, que são as sementes de tendências. As ações são impulsionadas de acordo com situações ou ambientes que despertam ou ativam as tendências.


Anandamaya Kosha coincide com Karana Sharira, o corpo causal, onde ocorre o primeiro reflexo de Atman sobre consciência.


Anandamaya Kosha, o invólucro de bem-aventurança ou beatitude


Anandamaya Kosha é a camada mais sutil de todas, que apresenta menor grau de ilusão. É considerado o corpo causal pelas Upanishads, a camada da existência, o primeiro desdobramento de Prakriti, a matriz fenomênica ou primordial.

Ananda é sinônimo de bem-aventurança e felicidade genuína. Entretanto, este kosha é um vislumbre de Ananda e não corresponde à sua experiência real, e é assim denominado por estar mais próximo de Atman.

A sua atividade está relacionada ao sono profundo ou sono sem sonhos, estado denominado como nidra. Isto significa que os reflexos da atividade da consciência não se projetam na tela mental do cérebro físico.

Anandamaya Kosha ainda não sofreu a diferenciação ocasionada por Ahamkara e conserva um senso de totalidade e, portanto, proporciona mais liberdade e expansão.

Ahamkara é o processo de individuação, onde se origina a noção de ego. A partir de Ahamkara, a realidade passa a ser percebida como interna e externa, com a visão daquilo que está dentro e fora do ser. Juntamente com a ilusão da separação, dos limites da camada de pele, surgem os apegos e as aversões.


O desdobramento sucessivo à Karana Sharira é Sukshma Sharira.


Sukshma Sharira ou Linga Sharira, onde Sukshma é traduzido como sutil, e, Linga, como modelo


Em Sukshma Sharira se encontram Vijñanamaya Kosha, Manomaya Kosha e Pranamaya Kosha.


Sukshma Sharira, ou corpo de matéria sutil, é composto de energia, memórias, impressões e discernimento, e recebe a influência de tendências adquiridas em vidas passadas e do conteúdo do registro akáshico, que são projetados por Karana Sharira.

Em sua constituição, estão os cinco vayus ou correntes de vitalidade, cinco órgãos de ação, cinco órgãos de conhecimento e as quatro faculdades psíquicas, que é a ponte de ligação entre os corpos, o cérebro físico e o Atman.

Deste corpo se origina o conteúdo dos sonhos, os quais se apresentam isentos de ordem ou lógica, pois o Eu Superior não participa desta atividade. Esta porção da consciência que toma decisões e exerce o discernimento será abordada em Vijñanamaya Kosha.

Nos indivíduos que desenvolveram a habilidade dos sonhos lúcidos, o Eu Superior está presente e ativo. Esta condição se assemelha ao estado de vigília, porém sem as limitações do espaço tempo, permitindo a interferência parcial ou total da consciência, que tem conhecimento de estar experimentando uma vivência dentro do estado de sonhos.

De acordo com o Ashtanga Yoga, atuamos especificamente em Sukshma Sharira através de Pranayama, Pratyahara, Dharana, Dhyana e Samadhi.


O desdobramento sucessivo a Anandamaya Kosha, que coincide com Karana Sharira, é Vijñanamaya Kosha


Vijñanamaya Kosha, o invólucro de discernimento


Vijñana é traduzido como conhecimento, discernimento, inteligência, compreensão, consciência, num sentido amplo e genérico para o sistema que conduz à compreensão da realidade. Esta camada reúne intuições, memórias, tendências, imaginação e fantasia.

O corpo intelectual, que é sede de manas superior, é responsável pela tomada de decisões e capacidade de discriminação, tanto do mundo exterior como interior. Por isso é considerado como Eu Superior, pois comanda o desejo à luz da razão. Recebe também a denominação de mente búdica, em alusão a Buddhi, que é o estado de consciência desperto.

Entretanto, como Vijñanamaya Kosha está sujeito às interferências do mundo físico, esta mente desperta ou iluminada pode estar mais ou menos encoberta pelos véus da ilusão.

Tal condição depende do grau de percepção adquirido através do autoconhecimento, se a consciência está mais voltada para a realidade externa ou interna. Quanto mais desenvolvida a percepção, mais interiorizada ela se encontra.

Ao atingir o controle das oscilações e movimentos da consciência, a natureza búdica é revelada.


O desdobramento sucessivo a Vijñanamaya Kosha é Manomaya Kosha.


Manomaya Kosha, o invólucro de mente


Manomaya Kosha corresponde ao corpo mental sensorial, emocional e instintivo, também denominada Manas inferior. Esta camada se associa aos órgãos dos sentidos e da ação, através dos quais nos relacionamos com o mundo exterior.

A partir de Manomaya kosha, se reforça a identificação com o mundo da forma e do ego (Ahamkara). É a sede da psique, da personalidade e do senso de identidade, onde atuam também os apegos e as aversões.

Mano pode ser traduzido por mente, que neste sentido, se refere à mente concreta, que percebe formas, sons, cores, cheiros, texturas, emoções e sentimentos, sendo também responsável pelas reações do organismo. Ela se caracteriza pela atividade autônoma, como uma consciência ordinária que não necessita do comando superior para algumas funções.


O desdobramento sucessivo a Manomaya Kosha é Pranamaya Kosha.


Pranamaya Kosha, o invólucro de energia ou de vitalidade, de prana ou alento vital


Pranamaya Kosha é caracterizado como um halo luminoso ao redor do corpo físico e corresponde à aura, psicosfera ou campo eletromagnético. Neste corpo se alojam os chakras e os canais de circulação de energia, os nadis, por onde circulam os vayus ou correntes de vitalidade.

O prana é absorvido através da respiração, da pele, dos olhos e da ingestão de água e alimentos.

O Pranayama, um dos pilares do Yoga, se refere ao controle e modulação do prana.

Quanto aos vayus, há cinco modalidades, a saber:


Pranavayu


A força que se move para frente, relacionada à captação, absorção, inspiração, e movimentação do ar, dos alimentos e das experiências.


Apanavayu


A força que se move para fora, responsável pela excreção, expulsão e eliminação, de conteúdo denso e sutil, e que tem ligação com a imunidade.


Samanavayu


A força que equilibra, relacionada à digestão e assimilação do ar, dos alimentos e experiências.


Udanavayu


A força que expulsa, que faz ficar em pé e falar, que distribui o prana para cima, relativa ao crescimento do corpo e à evolução.


Vyana Vayu


A força que se move para fora, relativa à circulação de nutrientes e conteúdos psíquicos, desenvolvimento, força de vontade, e que coordena os outros quatro vayus.


O desdobramento sucessivo a Pranamaya Kosha é Annamaya Kosha.


Pertencente à esfera de Sukshma Sharira, está Antahkarana, que atua nos mecanismos da consciência. Acrescentamos sua descrição básica ao assunto dos corpos, para melhor compreensão dos conceitos.


Antahkarana, a Mente Quádrupla


O Antahkarana é um órgão interno relacionado à atividade psíquica e mental, que se refere à consciência individual, o Citta do Vedanta, também chamado de Mente Quádrupla. Tal órgão é constituído de quatro tattvas ou componentes, que são: Vijñanamaya Kosha (Manas Superior ou Intelecto), Manomaya Kosha (Manas Inferior), Ahamkara (o Ego ou senso de individuação) e o Inconsciente, que arquiva memórias e interage com essas outras três esferas de consciência.

A presença de Antahkarana nos distingue dos animais, que agem basicamente por instinto. Sua função nos concede a capacidade de reflexão, interpretação, planejamento, com base na imaginação e memória de curto e longo prazo.

Observe que Anandamaya Kosha não participa de Antahkarana, pois está em um grau de sutileza acima de Ahamkara ou ego.


Dando continuidade à descrição dos corpos e invólucros, finalmente apresentamos o mais conhecido de todos.


Sthula Sharira, onde Sthula é traduzido por grosseiro


O corpo grosseiro se relaciona ao estado de vigília e coincide com Annamaya Kosha.


Annamaya Kosha, o invólucro de alimento


Annamaya Kosha é o mais denso e perceptível de todos. Anna é traduzido por matéria; e annam, por alimento ou comida. Ele se manifesta como o último desdobramento emanado de Atman, e consiste do corpo físico, seus sistemas, órgãos, tecidos, células, material genético, moléculas e átomos. Nele estão contidos os cinco elementos, ou Pañcha Tattvas, que são: agni ou fogo, prithivi ou terra, apas ou água, vayu ou ar, e prana ou éter.

O corpo físico também constitui um acesso ao Atman, que é purificado e harmonizado através de Asanas, outro pilar do Yoga.


O conhecimento dos corpos e suas funções nos trazem maior compreensão diante da complexidade da existência. A perplexidade diante de nossa constituição aponta para o plano divino e nos direciona à luz do Atman, que é um raio do Criador Absoluto.


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