top of page

“Asana não é para o corpo, mas através do corpo.”

  • Foto do escritor: ANAHATA
    ANAHATA
  • 10 de jun. de 2020
  • 6 min de leitura

Atualizado: 30 de mar. de 2024


Os asanas ou posturas constituem um dos pilares do método Ashtanga Yoga, largamente divulgadas no ocidente.

“Asana não é para o corpo, mas através do corpo.” Esta conhecida afirmação elucida bem o objetivo deste estágio da metodologia do Yoga. O trabalho físico envolve muito mais que funções mecânicas e metabólicas do organismo, pois atua sobre as correntes de energia (vayus) e conteúdos emocionais e mentais do corpo sutil ou psicosfera. Por esse motivo, asana é conhecido como postura psicofísica.


Os nomes dos asanas remetem à natureza e às divindades, que indicam também uma sintonia com as forças arquetípicas. Assim como na geometria, cada posição assumida corresponde a uma configuração, tendo como resultado uma combinação de forças e um campo energético peculiar, que modificam tanto o ambiente interior como também o espaço ao redor.


O indivíduo que almeja pelos estados mais elevados de consciência, deve preparar o seu veículo de sustentação material, através do qual executa os comandos da consciência e realiza o seu propósito.

O acúmulo de toxinas de ordem material e sutil são obstáculos à integração, são os véus da ilusão e ignorância que distorcem ou impedem a manifestação de nossa verdadeira natureza.

A necessidade de purificar organismo e mente surgiu com o início da era de Kali Yuga ou Idade do Ferro, que se iniciou com a passagem de Shri Krishna para o mundo espiritual.

Até então, havia muita harmonia, paz e equilíbrio na humanidade, e o contato com o mundo espiritual era algo natural. Esta fase áurea é comum a outras tradições também, sendo que a filosofia hindu considera quatro eras ou Yugas: Satya (Ouro ou Verdade), com 1.728.000 anos; Treta (Prata), com 1.296.000 anos; Dwapara (Bronze), com 864.000 anos e Kali (Ferro) com 432.000 anos, totalizando 4.320.000 anos (os números podem apresentar variações).


De acordo com a história, os discípulos recebiam os ensinamentos através da tradição oral, permanecendo sentados durante horas. Assim, a prática de asanas também tinha por objetivo o fortalecimento da musculatura, a fim de manter o alinhamento adequado da coluna vertebral. A variedade de posturas meditativas sentadas também têm relação com esse fato.

A coluna vertebral exerce um papel fundamental no organismo: além de ser o eixo de sustentação do físico, protege a medula espinhal, principal via de comunicação neural; no corpo sutil, representa o envoltório dos nadis, os canais de energia principais.

Como acontece o trabalho com asanas?


Primeiramente, devemos nos lembrar que a causa da existência corpórea é o espírito. Assim, nosso corpo causal é como um molde energético, que preenche e permeia o físico, e tudo que é manifestado no corpo denso teve sua origem no plano sutil. Cada célula possui um correspondente sutil, assim como os tecidos, que compõem os órgãos e sistemas. Este corpo invisível contém os registros das existências pregressas e da atual, sendo que estes veículos se interpenetram e se comunicam constantemente.


A partir desta visão, compreendemos que a atitude corporal abarca um complexo e elaborado sistema, que culmina na consciência integral do ser, bem como todo o conjunto de atividade mental e emocional.

Algumas células especializadas são portadoras de “memória” e nosso organismo possui uma série de órgãos sensitivos, além dos cinco sentidos mais conhecidos. Desse modo, as experiências e impactos emocionais armazenados no corpo físico podem ser acessados através da execução de asanas.


No caso de um trauma ou memória de dor, o conteúdo pode emergir durante uma prática, trazendo a oportunidade de ressignificação da experiência. Com o auxílio da mente e do conhecimento, é possível transcender um fato do passado e superar as limitações a ele associadas. Para tanto, é altamente indicado que este processo ocorra com o apoio de um profissional habilitado.


Com relação às memórias “positivas” proporcionadas pela prática, é possível “ancorar” ou criar um “gatilho” associado a uma postura, a qual irá deflagrar o estado desejado sempre que houver necessidade. Este mecanismo envolve a neuroplasticidade, que é a capacidade de alteração morfológica do tecido nervoso através da repetição. Como qualquer processo de aprendizado, este recurso demanda dedicação, disciplina, constância e paciência, até que ocorram os efeitos.


O alongamento da musculatura e expansão das cápsulas articulares também estão relacionados a este processo. Devido à ação da gravidade, a massa corpórea é atraída para o solo, resultando no achatamento das articulações, fora a tensão muscular acumulada durante o período de atividade. Uma vez que somos bípedes, as vértebras da coluna pressionam os discos intervertebrais e os canais por onde emergem as raízes nervosas.

Durante uma sessão de asanas, o alongamento devolve aos músculos e articulações seu tamanho natural, ao antidotar a ação da gravidade e da tensão exagerada da musculatura. Como consequência, o cérebro entende esta ação como uma expansão, o que é geralmente relatado pelos praticantes.

A percepção de expansão também decorre das posições, que não são comuns ao nosso cotidiano. Quando assumimos uma conformação física inédita, novas conexões neurais são criadas, resultando também em novas perspectivas, o que possibilita uma visão de mundo diferente.

Através da atenção nas sensações e do aprimoramento da autoconsciência corporal, desenvolve-se também a amplificação dos sentidos, que se tornam mais refinados. Ao adquirir essas habilidades, o praticante estabelece uma linguagem rica e profunda com seu próprio físico.


O trabalho muscular adotado nos asanas é a contração isométrica.

A definição constante do Yoga Sutra recomenda o conforto, a estabilidade e a permanência. Quando se está confortável, é possível alcançar a estabilidade e permanecer por um maior período de tempo.

Para atingir o domínio completo do asana, a permanência é de aproximadamente quatro horas. E ao praticante comum, é indicada a permanência média de três minutos, sendo que as modificações fisiológicas e energéticas almejadas começam a ocorrer após o primeiro minuto.

Durante a contração muscular, ocorre a diminuição do fluxo sanguíneo local, tal qual um nó na mangueira represando a água. No relaxamento, o sangue anteriormente estancado inunda a luz dos vasos com velocidade e pressão, carregando impurezas e levando nutrientes e oxigênio em abundância às células.

Nos estados de tensão prolongada, quando a devida relaxação não ocorre, a circulação sanguínea é prejudicada, resultando na oferta deficiente de nutrientes e acúmulo de toxinas no interior dos vasos.


A consciência corporal que se desenvolve através do Yoga possibilita a percepção de estados prolongados ou exagerados de tensão muscular, em sintonia com os ciclos de atividade e repouso. A própria natureza opera com o mínimo esforço, e nesse caso, a cota de energia poupada pode ser estocada ou direcionada para atividades mais produtivas.


No trabalho isométrico com permanência, o fortalecimento ocorre no sentido longitudinal das fibras musculares, ou seja, no comprimento do músculo, com aumento da tensão interna, tonicidade e força, sem movimentação. Já na repetição, a exemplo da musculação, a hipertrofia se deve ao crescimento no sentido perpendicular ou largura, promovendo aumento do tônus, resistência e força. Como o aumento do volume é decorrente da quebra da fibra, a interrupção da atividade costuma levar ao estado de flacidez.

Devido à natureza morfológica e anatômica do músculo esquelético, o fortalecimento das fibras musculares no sentido longitudinal não acarreta flacidez, mesmo com a cessação de uma rotina de posturas, uma vez que não está relacionado ao aumento na quantidade de células. Quando a execução de asanas é retomada, a memória da célula é ativada e o condicionamento é recuperado.


A consciência da respiração é trabalhada juntamente com a execução dos asanas, inclusive no direcionamento do prana para regiões e órgãos específicos. Com o movimento inspiratório, a energia vital é conduzida à região em questão, e através da expiração, são eliminadas as impurezas e o excesso de resistência muscular. Para aqueles que já desenvolveram um bom nível de percepção, esta ação provoca sensações como formigamento, arrepios, ondas de frio ou calor.

O alongamento muscular na prática de asanas ocorre por relaxamento, concomitantemente ao movimento de expiração. Por ser gradativa, a resistência gerada pelos tendões vai diminuindo a cada ciclo respiratório, atingindo um melhor resultado e com o mínimo risco de lesão. Como efeito psíquico, a mente compreende o “aumento” do espaço interno (articulações, tendões, ligamentos), proporcionando a sensação de expansão.

Outra estrutura a ser considerada é a fáscia muscular, membrana que recobre o músculo, a qual requer uma lubrificação ideal para o seu deslizamento, processo que ocorre gradativamente. Assim, o alongamento avança gradativamente a cada movimento respiratório, sem esforço e com respeito aos limites do corpo.


Há ainda o trabalho sobre a musculatura semi voluntária, como o piscar de olhos e a deglutição, e a modulação sobre a musculatura lisa involuntária, ambos pela ação do Sistema Nervoso Autônomo, embora estas técnicas estejam relacionadas aos bandhas (travas), mudras (selos) e kriyas (limpezas), citadas aqui por serem práticas corporais. Esta é uma peculiaridade do trabalho corporal, similar a uma ginástica interna, que concede tonicidade e aumento da circulação de sangue e do alento vital.


Entre os vários benefícios pertinentes à execução de “yogasana”, esperamos ter apresentado as informações básicas para uma compreensão inicial a respeito do assunto.

Comments


25.695.089/0001-89
WPP +55 11 94801 0557
CONTATO@ANAHATA.BLOG
SP, BRASIL

bottom of page